Várias cidades brasileiras estão tendo um aumento significativo de casos de H3N2, um subtipo do vírus influenza A. Diante desse cenário, as gestantes precisam estar atentas, pois elas são grupo de risco para a gripe, devido às alterações do seu sistema imunológico durante a gravidez. Além disso, a cepa nova da H3N2, conhecida como Darwin, ainda não pode ser combatida pela vacina atual da gripe de forma tão eficiente.
Assim, uma tosse ou dor de garganta não podem passar despercebidas nesse momento, já que o país não tem apenas a influenza circulando, mas também a covid-19, inclusive com a circulação da variante ômicron, altamente transmissível. Por isso, a CRESCER conversou com especialistas que responderam as principais dúvidas das gestantes com relação aos impactos da H3N2 e os cuidados que as grávidas devem tomar.
Grávidas são grupo de risco? Por quê?
Sim! E não importa o tipo de influenza. Cada ano, geralmente, nós temos um tipo de vírus da gripe predominante. Pode ser o influenza A (H1N1 e H1N1) ou mesmo a Influenza B. No entanto, segundo o infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o risco para as grávidas é o mesmo, pois elas estão mais vulneráveis e seu sistema imunológico fica mais fragilizado. Isso é válido também para as puérperas. "Até 45 dias pós- gestação, essas modificações gravídicas persistem", explica o especialista.
Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio Libanês e Hospital Albert Einstein, também ressalta que na gravidez a mulher passa por algumas alterações imunológicas para que seu corpo não reconheça o feto como algo estranho. Dessa forma, a gestante pode ficar mais suscetível às infecções virais, pois sua imunidade fica comprometida. Ela pode ter quadros mais graves da doença ou levar um tempo maior para se curar da influenza.
O impacto da influenza em gestante é muito estudado pelos pesquisadores. Publicado no portal Univadis britânico - referência para muitos especialistas -, um estudo mostrou que as gestantes de fato precisam ser acompanhadas de perto em relação à doença. O trabalhou teve um coorte de base populacional de 9.652 mulheres com idades entre 15 e 44 anos e hospitalizadas com influenza. Os dados foram coletados de um estudo transversal da Rede de Vigilância de Hospitalização da Gripe dos EUA durante as temporadas de influenza de 2010-2011 e 2018-2019.
Do total de mulheres analisadas, 27,9% estavam grávidas. Apenas 32% das gestantes hospitalizadas foram vacinadas, enquanto 68% não foram vacinadas. Em relação às internações, 5% das gestantes hospitalizadas com influenza necessitaram de internação na UTI, 2% necessitaram de ventilação mecânica e 0,3% morreram. Além disso, 96% das altas tiveram nascidos vivos e 3% sofreram perda fetal.
Outra questão que chama a atenção é que o estudo apontou que mulheres grávidas com influenza A H1N1 eram mais propensas a ter desfechos graves do que aquelas hospitalizadas com influenza A H3N2.
Quais são os principais sintomas?
São sintomas de quadro gripal. Então, a mulher pode ter febre, tosse seca, dor no corpo, dor de garganta, e, em alguns casos, até mesmo falta de ar. Diante de qualquer sintoma gripal, já é recomendado consultar um médico, pois as gestantes são grupo de risco e ainda estão vivendo em um cenário em que a circulação viral é muito grande.
Em alguns casos, quando a saturação de oxigênio da gestante está muito abaixo do esperado, é possível que ela seja internada para ter acesso ao suporte de oxigênio e também para os médicos acompanharem de perto a evolução do quadro pulmonar. Pupo, ainda, alerta que um quadro viral grave de H3N2 diminui a capacidade de defesa do corpo e gera a oportunidade para infecções bacterianas. Muitas vezes, as pacientes estão se recuperando do vírus da influenza e desenvolvem um quadro de pneumonia, por exemplo. Por isso, é preciso ficar atento a qualquer mudança de estado.
O que fazer se a grávida já está infectada?
Kfouri ressalta que é necessário fazer o diagnóstico rápido para introdução do antiviral, em até 48 horas após o início dos sintomas, pois essa medicação pode alterar o curso da doença. Pupo explica que o quadro de H3N2, em geral, dura em torno de sete dias e com o uso de antiviral pode reduzir para dois. Assim, o medicamento minimiza o risco que a infecção traria.
No entanto, o especialista também ressalta que é importante a consulta com médico para orientar a gestante. Ele inclusive faz um apelo para as pessoas não comprarem essa medicação para fazer estoque em casa, porque pode prejudicar outras pessoas que estão de fato precisando.
Como se proteger?
Kfouri alerta que as gestantes devem tomar os mesmos cuidados que já vêm tomando para não se infectar com a covid. Então, evite aglomerações, mantenha o distanciamento, use máscara e higienize as mãos com frequência.
Caso não tenha tomado a vacina da gripe, a grávida deve se imunizar?
Sim! Nós já sabemos que a atual vacina da gripe não protege contra a nova cepa da H3N2. No entanto, o infectologista Kfouri recomenda a vacinação para se proteger dos vírus que o imunizante já contempla, caso a gestante já tenha tomado, não é necessário fazer o reforço.
Fonte: Revista Crescer