Neste Outubro Rosa, buscamos aconselhar as mulheres a melhorar seu estilo de vida e seus hábitos alimentares, praticarem mais atividade física ao ar livre e visitar seu médico periodicamente para realizar exames de rastreamento e prevenção.
Vejam abaixo dicas e orientações:
Introdução
O câncer de mama é o câncer mais comum nas mulheres brasileiras após o câncer de pele. Estima-se que neste ano de 2016 o número de mulheres diagnosticadas com câncer de mama chegará em 57960 casos (56,2 casos novos para cada 100mil mulheres) segundo dados do INCA – Instituto Nacional de Câncer. Os estados com maior número de casos serão da região Sul e Sudeste seja por sua densidade populacional seja por terem as taxas mais elevadas por 100 mil mulheres. O estado com maior taxa será o Rio de Janeiro com 91,25 casos novos por 100 mil mulheres, seguido de Rio Grande do Sul com taxa de 90,2 e São Paulo com 69,7 (fonte: MS/INCA/Estimativa de Câncer no Brasil 2016).
Tal fato se deve aos fatores de risco para câncer de mama que são: obesidade, alimentação rica em gordura, gestação tardia, vida sedentária, consumo excessivo de álcool, poluição e baixa qualidade de vida.
Fatores de Risco Mutáveis
Estudo Europeu chamado EPIC (European Code Against Cancer) identificou fatores de risco e estimativa de aumento de risco para câncer de mama. Isto permite que possamos avaliar como vivemos e onde podemos intervir para reduzir nossa exposição aos fatores de risco.
Peso
Cada aumento de 5kg/m2 no IMC (índice de massa corpórea) aumenta 12% risco de câncer de mama. A perda sustentada de 5% do peso reduz em 25-40% este risco e diminuição de 10kg de peso reduz em 50% o risco (fonte: EPIC: Obesity, body fatness and cancer; Iowa Women´s Health Study; Nurse´s Health Study).
Gorduras
Reduzir ingesta de gorduras trans e saturadas, de ácidos graxos poli-insaturados, limitar consumo de conservas, sal e carnes processadas e aumentar ingesta de alimentos ricos em fibras diminui o risco de câncer de mama em 31% (fonte: EPIC: Diet and cancer; Catsburg et al., 2014).
Atividade Física
Realizar atividade física recreacional como caminhar, brincar ao ar livre, pedalar por 30 minutos até 90 minutos diários reduz risco de câncer de mama em 40-44% tendo seu máximo efeito em mulheres com sobrepeso e alta ingesta calórica (fonte: Dirx et al., Cancer 2001).
Álcool
A ingesta de bebidas alcoólicas aumenta o risco de câncer de mama em direta proporção ao quanto se bebe, sendo estimado em 10% de aumento para cada 10g/dia de álcool consumido. Por exemplo, um episódio de consumo elevado por semana aumenta o risco em 55% e se for uma vez por mês eleva este risco em 33% (fonte: EPIC: European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition ; Romieu et al., Int J Cancer, 2015).
Aleitamento e Partos
A amamentação tem efeito protetor sobre o câncer de mama com redução de 4,3% de risco para cada 12 meses de amamentação e o parto somente tem efeito protetor se ocorrer antes do 30 anos de idade. Nestes casos cada parto antes dos 30 anos reduz em 7% o risco de câncer de mama (fonte: EPIC: Breastfeeding and cancer).
Poluição
Produtos advindos da combustão de combustíveis fósseis podem promover alterações hormonais (chamados disruptores hormonais). Exemplo é o grupo de substancias chamadas Dioxinas. Estudo relacionado a acidente na Itália que elevou níveis de dioxina em Seveso 1976 demonstrou incremento 2,1 vezes nos casos de câncer de mama (fonte: Warner, M et al. Environ Health Perspect, 2002).
Fatores de Risco Imutáveis
Fatores de risco imutáveis são aqueles que não conseguimos intervir diretamente com mudança de postura ou hábito de vida. Porém seu conhecimento permite intervenções com o intuito de reduzir risco e de detectar precocemente o câncer ou suas lesões precursoras alterando a história natural da doença e diminuindo seus efeitos deletérios.
São exemplos a idade, a história familiar e as mutações genéticas que conferem risco de câncer.
Idade
O câncer de mama, apesar de acometer mulheres em qualquer idade, é mais comum em mulheres acima dos 50 anos de idade. Aumenta sua participação nas causas de morte por faixa etária a partir de 30-34 anos sendo este crescimento maior principalmente após os 65 anos.
História Familiar
Apesar de ser razoavelmente comum existir algum membro da família que tem ou teve câncer de mama, este é geralmente considerado casual, dito esporádico, e sem relação com risco genético ou risco aumentado para câncer de mama nos demais membros. Em especial se o membro acometido tiver mais de 50 anos quando do diagnóstico.
Porém cabe ressaltar que em famílias com história de câncer de mama em membro com menos de 40 anos ou naquelas em que mais de uma mulher em linhagem direta (mãe, irmãos ou avós) ou que tenha 1 homem acometido de câncer de mama, a pesquisa genética passa a ser importante e risco familiar de modo geral aumenta.
Mutação Genética
As principais mutações relacionadas ao câncer de mama são as dos genes BRCA1 e BRCA2.
Estas mutações conferem risco para desenvolver o câncer de mama ao longo da vida na ordem de 50-80%. Eles também conferem risco elevado para câncer de ovário e próstata.
A pesquisa destas mutações deve ser discutida em famílias com descendência Askenazi, ou naquelas com 2 ou mais membros com câncer de mama, ou quando alguém com câncer antes dos 40 anos de idade em linhagem direta (mãe, irmãos ou avós).
Nestes casos solicita-se uma consulta de Aconselhamento Genético que é realizada por médico geneticista e que irá explorar a árvore genealógica em busca de padrões de doenças que possam ter herança familiar. A partir daí estabelece a necessidade ou não de estudo genético na pessoa ou preferencialmente em algum familiar portador da doença (caso índice).
Orientações para Rastreamento e Prevenção
Com o conhecimento dos fatores acima, políticas públicas foram desenvolvidas para proteger a mulher do câncer de mama, como por exemplo, o Outubro Rosa.
Aconselhamos as mulheres a realizarem mamografia anual a partir dos 40 anos até pelo menos 75 anos. Nas pacientes com mamas densas vale associar a ultrassonografia. Eventualmente o ultrassom de mamas pode ser iniciado aos 30-35 anos de idade em pacientes com alterações benignas das mamas como cistos e fibroadenomas (nódulos de aspecto bem característico ao ultrassom e totalmente benignos).
Na presença de caso de câncer de mama na família, aconselha-se iniciar a mamografia aos 40 anos ou 10 anos antes do caso mais jovem, o que for mais precoce (se câncer foi aos 40 anos, iniciar aos 30 anos e se foi aos 60 anos, iniciar aos 40 anos). A mamografia tem pouca valia antes dos 35 anos de idade, sendo melhor rastrear com ultrassom de mamas e eventualmente, ressonância magnética com contraste das mamas.
Em pacientes com mutação genética familiar de risco para câncer de mama, especialmente nas pacientes com mutação de BRCA1, podemos iniciar rastreamento anual com ressonância de mamas a partir dos 25 anos de idade e ultrassom de mama.
O objetivo do rastreamento é a identificação precoce do câncer de mama ou de suas lesões consideradas precursoras ou determinantes de alto risco. Isto permite definir tratamentos menos agressivos e com melhores probabilidades de sucesso e cura.
Lembrem-se, em Medicina o pior inimigo é o desconhecido, pois para o conhecido podemos buscar tratamento. O desconhecido cresce sorrateiro e à sombra do poder de cura da Medicina.