Relatório Preliminar de Microcefalia potencialmente associada a infecção por Zika virus durante a gestação
Foram identificadas na Colombia, entre 9 de agosto de 2015 a 12 de novembro de 2016, 20.000 pacientes gestantes com suspeita de infecção por Zika baseado em sintomas clínicos, independente de confirmação laboratorial. Foram identificados 476 casos de microcefalia no período de 31 de janeiro a 12 de novembro de 2016 comparados a 110 anos no mesmo período de 2015. A associação temporal entre o surto inicial de infecção pelo Zika virus e a elevação de casos de microcefalia sugere maior risco as gestantes no 1o e início do 2o trimestre de gestação.
O aumento de casos de microcefalia registrados foi de 2,1/10.000 nascidos vivos em 2015 para 9,6/10.000 nascidos vivos em 2016.
Dos 476 casos de microcefalia registrados no período, 306 foram testados em laboratório para o Zika virus, sendo este diagnosticado em 147 casos (48% dos 306). De 121 casos testados para outras infecções que também causam microcefalia, 26 (21% de 121) tiveram testes positivos para Toxoplasmose (15 casos), Herpes simplex (6), Citomegalovirus (4) e Sífilis (1). Destas 26 crianças, 17(65%) tinham evidência de co-infecção por Zika virus.
Mães de 164 crianças com microcefalia relataram sintomas compatíveis com Zika virus (34% do total de 476 casos de microcefalia).
O estudo sugere uma elevação de casos de microcefalia em regiões de surto de Zika virus na ordem de 4x porém ainda assim os casos são raros se considerarmos o total de nascidos vivos (96 casos para cada 100.000 nascidos vivos).
Limitações a interpretação dos dados acima:
1. Nos Estados Unidos, antes do surto de Zika virus chegar, a incidência de casos de microcefalia era ao redor de 66 casos para cada 100.000 nascidos vivos. Devemos considerar na equação fatores limitantes inerentes a Colombia, como a notificação não compulsória prévio ao surto de Zika virus o que torna os dados de microcefalia anteriores ao surto de Zika virus subnotificados (provavelmente o número de casos de microcefalia era mais alto do que o informado, assim como ocorreu no nordeste brasileiro). A subnotificação faz parecer que o aumento é maior do que realmente é.
2. A forma de diagnóstico de microcefalia não é bem estabelecido e pode ocorrer erros na obtenção de medidas acuradas de circunferência cefálica (forma mais usual de definir a microcefalia).
3. O número de casos confirmados em laboratório dependem de coleta adequada do material ser examinado e teste em tempo adequado. Erros no processo podem subnotificar casos de infecção pelo Zika virus. Na Colombia, falhas de coleta e testes realizados fora do tempo correto podem ter acontecido, diminuindo número real de casos.
4. Casos mais brandos com defeitos leves ou atraso no desenvolvimento cerebral podem demorar a ser percebidos e portanto, não estão incluídos neste estudo.
5. Pacientes com casos assintomáticos de infecção pelo Zika virus acabam não sendo incluídas no cálculo de incidência da doença o que pode reduzir ainda mais esta taxa.
A infecção por Zika virus pode ser assintomática e não se sabe qual a extensão dos casos assintomáticos. Na sua forma sintomática apresenta-se com febre e pelo menos um dos seguintes sintomas sem outra causa definida: vermelhidão pele (rash), conjuntivite não purulenta, dor de cabeça, coceira, dor articular, dor muscular (mialgia) e prostração.
Frente ao exposto, a recomendação é evitar viagens a áreas de surto da doença, utilizar roupas que cubram o corpo reduzindo a área de exposição a picada do mosquito, aplicar repelentes de inseto nas doses preconizadas em suas instruções, preferindo os cremes e loções aos aerosóis (permitem melhor cobertura e não espalham partículas no ar que podem ser inaladas), manter telas de proteção nas janelas para evitar entrada de mosquitos no interior das casas.
Alexandre Pupo Nogueira - CRM 84414
http://www.medscape.com/viewarticle/873373