Temos visto níveis baixos e, por outro lado, intoxicação por excesso de vitamina D, alertam pediatras
Há pouco mais de um ano, a pandemia de coronavírus chegou trazendo uma série de mudanças na rotina da população mundial. Além do uso de máscara e álcool gel, foi necessário manter o distanciamento social. As escolas fecharam presencialmente e muitas pessoas aderiram ao home office. Parques, praças e playgrounds permaneceram fechados.
"O estilo de vida das pessoas hoje já é mais 'fechado', mas o que vimos é que com a pandemia, as pessoas passaram a se expor menos ainda ao ambiente externo. Isso tem diminuído muito a exposição ao sol. Portanto, há uma diminuição geral na produção de vitamina D e uma maior necessidade de se repor essa vitamina", alertou o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, dos Hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein, em São Paulo.
O problema também tem sido observado entre as crianças, como explica o pediatra Nelson Douglas Ejzenbaum, de São Paulo, membro da Academia Americana de Pediatria e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). "Essa vitamina não existe na natureza para ser consumida. Alguns alimentos até possuem, mas em pequenas quantidades que não são suficientes para o nosso organismo. A única e principal fonte continua sendo o sol", afirmou.
BAIXOS NÍVEIS DE VITAMINA D
"A vitamina D é algo extremamemte importante para o organismo. Sem ela, não temos a fixação do cálcio nos ossos", reforçou Nelson. A pediatra Louise Cominato, presidente do Departamento de Endocrinologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), explica que, nas crianças, a principal consequência da deficiência de vitamina D é o raquitismo, uma doença óssea. "É uma alteração osteometabólica, um problema na formação do osso. Então, essa criança não vai crescer bem e pode ter curvamento ósseo. Trata-se de uma doença silenciosa. A deficiência de vitamina D não causa nenhum alteração química inicial, então, só é possível perceber através de uma avaliação laboratorial. Hoje, com a pandemia e a menor exposição ao sol, existem várias crianças com deficiência da vitamina D e assintomáticas. Por isso, é importante fazer o exame de sangue", alerta.
"No último ano, temos visto crianças com níveis baixíssimos de vitamina D. Então, quando o exame vem baixo, é preciso corrigir e complementar", reforçou Nelson. Segundo ele, a vitamina é tão importante que a Organização Mundial da Saúde recomenda a suplementação para crianças de até 2 anos. "A orientação é para que os pediatras pescrevam uma dose de 400 unidades até o primeiro ano de vida e 600 unidades até os 2 anos. Ou seja, toda criança deve tomar suplementação de vitamina D até os 2 anos. Após essa idade, depende do pediatra, pois não existe uma obrigação. Mas eu, particularmente, acredito que seja importante dar continuidade, pois as pessoas não tomam sol como deveriam, principalmente em época de pandemia", disse.
ALERTA PARA O EXCESSO
Por outro lado, segundo Louise, muitas pessoas estão recorrendo a suplementação por conta própria. "O que nós temos visto atualmente também são casos de intoxicação por excesso de vitamina D. Isso vem acontecendo em adultos e também em crianças. Já vimos pacientes internados por causa disso. A intoxicação pode levar a confusão mental, fraqueza, aumento da diurese, vômitos, falta de apetite e fraqueza muscular. No exame, além do aumento dos níveis, pode-se encontrar um aumento do cálcio, já que a vitamina aumenta a absorção", explicou.
"O excesso pode levar a calcificação das artérias e formação de cálculo renal. Ou seja, o excesso também é ruim", complementou o obstetra Alexandre Pupo. "Existe a ideia de que vitamina não faz mal, mas o excesso delas também podem causar efeitos maléficos ao organismo", disse. Pupo afirma que, em seu consultório, mesmo antes da pandemia, já costumava recomendar a suplementação de vitamina D para todas as gestantes. "Assim que elas testam positivo para gravidez, devem iniciar a suplementação. A dose é de 20 mil unidades por semana. O feto também precisam de vitamina D, mas não toma sol, pois está dentro da barriga. Então, ele utiliza a vitamina da mãe. Agora, com a pandemia, o que temos percebido é que existe uma deficiência também nas gestantes", alertou. Recentemente, um estudo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, descobriu que a vitamina D ajuda a reduzir o risco de pré-eclâmpsia e aborto espontâneo durante a gravidez.
Segundo o pediatra Nelson Ejzenbaum, apesar da vitamina D ser vendida sem receita médica, é importante seguir a orientação do médico. "É preciso tomar muito cuidado com as doses. Tem que saber qual é a dosagem correta para cada pessoa, principalmente levando conta a idade", explicou.
Fonte: Revista Crescer